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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

LUTO= ALMA DE REPÓRTER


Minha alma de repórter está de luto, ficou órfã, perdeu seu criador. Sérgio Vargas Ross partiu numa tarde quente de outubro. Como um cometa cruzando os céus, deixou uma cauda  repleta de saudades e lembranças.

Na época em que o conheci ele era chefe da Sucursal da Manchete ( Editora Bloch) em Brasília. Um lugar que todo profissional da imprensa queria trabalhar. Empresa poderosa, revistas conhecidas além fronteiras, quinta gráfica do mundo. Sem ter qualquer tradição ou experiência no mundo jornalístico, ele me convidou para ser sua repórter. Me deu a chance, me entregou um grande desafio. Eu aceitei e resolvi enfrentar o mundo louco que ele colocou em minhas mãos. No primeiro ano, não tive folga um final de semana sequer. Infindáveis plantões que muito me ensinaram.

Preparada, ele providenciou minha contratação, dizendo aos superiores: “ um  boa aquisição. É pé de boi” ( que no Rio Grande do Sul, estado meu e dele, significa trabalhadeira). E, com faro na profissão de fé, que é a reportagem, trabalhei muito. Eu trabalhando e ele, como chefe, acreditando, me transformei numa boa repórter, modéstia à parte. Cruzei  os céus do Brasil, abracei as aventuras amazônicas, desvendei segredos milenares dos incas na região dos Andes, me infiltrei no meio dos skin heads  na Alemanha, vi de perto o atelier dos mais famosos  estilistas franceses, frequentei o Palácio de Buckingham, os bastidores do Concurso Miss Mundo, na capital inglesa, singrei  rios no navio Calipso com o lendário comandante Cousteau, mergulhei em todos os mares, me banhei nos rios, nos igarapés, nas  mais distantes cachoeiras, me deslumbrei  com os garimpos de ouro e de pedras preciosas, senti na pele o perigo de mundos misteriosos, escutei muitas histórias, alegres e tristes, vi discos voadores, conversei com bruxos. Enfim, me tornei uma repórter na concepção exata da palavra. E tudo isso porque Sérgio Ross acreditou em mim. 

Com seu jeito descontraído e próprio de falar, costumava dizer que me achava “uma puta repórter”. No que eu respondia que era porque ele me “ensinava o caminho”. Sempre brincalhão, adorava criar histórias engraçadas, onde nós, seus funcionários, éramos sempre personagens. Duro na hora que precisava, me definia como a “jornalista que, sob pressão, funcionava 100%”. Se dessem mole, eu me acomodava. E era assim mesmo. . Ele tinha razão. Pauteiro como poucos, tirava notícia do nada e mandava a gente “ se virar para fazer a matéria”. E ai de quem não se virasse. Se não fosse assim, não servia pra trabalhar com ele. Com muito jeito, sempre nos ensinou a importância da imagem junto ao texto. Toda vez que me deixava um bilhete escrito, nele desenhava uma estrela, apelido que ele me deu. Como grande fotógrafo que sempre foi, ensinou a importância  da imagem junto ao texto. Pela sua escola passaram muitos jornalistas. Profissionais, na sua maioria, que ficaram conhecidos em  todo o Brasil. Gente que, como eu, hoje está com o coração partido.


Serginho se foi, virou uma estrela cuja luz, sem dúvida, continuará iluminando a estrada de outros repórteres que ainda virão. Uma missão que ele continuará tendo pelos novos caminhos do universo.

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