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terça-feira, 17 de agosto de 2021

ADEUS A YARA CURI

ARA- O VENTO NÃO LEVOU

 

Convivi muito de perto com Yara Curi nos últimos anos. Foram tardes e noites infindáveis onde, no início, tentei recuperar todas as crônicas que ela escrevia numa antiga agenda. Depois, passei a ouvir histórias reais de sua vida e, também, em sua memória fatos que marcaram seus anos aqui em Brasília e as muitas amizades que fez. Algumas, o tempo levou, e outras o tempo consolidou. Momentos de pura emoção que, não raras vezes, nos levaram às lágrimas. Finais de tarde onde, juntas, declamávamos poesias e, algumas vezes, até cantávamos músicas que marcaram sua vida e também a minha. Conversas longas até altas horas da noite, às vezes interrompidas por capítulos de novelas, alguns filmes ou momentos em que ela tinha que tomar seus remédios. No início foi fácil , pela empolgação dela, depois, foi ficando mais complicado, mas  sempre tivemos nossos momentos, muitas vezes  compartilhados com o Curi, a quem ela chamava de “Neguinho”. Quantas lembranças brotaram de sua memória, quantos velhos conhecidos ela reviu pelo computador, quantas  mensagens de pessoas que não moram em Brasília e mandavam para ela, através de minhas redes. E, aos poucos, de conversas em conversas, fui descobrindo a outra Yara . Ela não era  apenas a mulher mais charmosa e elegante da cidade, a rainha das colunas sociais, conhecida  como a primeira dama de nossa sociedade,  mas a mulher culta, inteligente e grande profissional. Ela foi a guerreira que sonhou e conseguiu, com muito sacrifício, se formar em Direito, trabalhando como estagiária junto aos menos favorecidos da periferia do Rio de Janeiro e de ter tido a honra de ser a primeira mulher advogada a fazer uma defesa no STF já instalado em Brasília. Uma homenagem que o Supremo ficou lhe devendo. Depois, foi procuradora, hoje aposentada, e teve  grande participação na consolidação da transferência de alguns órgãos para Brasília. Descobri a esposa e companheira apaixonada pelo homem com o qual dividiu sua vida e o ajudou a formar um verdadeiro império no mundo dos negócios; a mãe e avó amorosa, que 24 horas por dia, ficava preocupada com a família. Isto, sem contar com o seu lado solidário que não media esforços para ajudar quem precisava. Descobri sua infância, seus primeiros anos simples vividos em Minas Gerais e  também outros sonhos que ela teve, mas não conseguiu transformá-los em  realidade. Durante anos, nossos laços fraternos foram se fortalecendo ainda mais, ao ponto de quase nos transformarmos em irmãs que vez ou outra, trocam segredos incontáveis. Eu, preocupada com ela e ela preocupada comigo. E assim fomos nos ajudando mutuamente e a eterna gratidão por tudo que fez por mim e pelos que fazem parte de minha vida sendo plantada em meu coração. Yara tinha um coração tão grande, que nele nunca coube qualquer rancor, qualquer mágoa, pois era feito de ternura e perdão. Agora ela partiu e tudo o que nos ligou, o que ela me contou está devidamente registrado. E esse garimpo de  surpresas intermináveis poderá se transformar num livro ou capítulos no meu blog.  Vamos dar tempo ao tempo para ver se consigo a devida autorização. Pessoas como Yara são eternas, ficam na história, na memória e são folhas que o vento jamais levará.

MINHA COLUNA DE HOJE NO JORNAL ALÔ BRASÍLIA