Anuncio

Anuncio

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O REVERSO DO AMOR






O reverso do amor. Por Tânia Fusco ( jornalista)

Difícil ser normal nos dias de hoje quando, repetindo verso da MPB, não há limites pro anormal. Não dá para saber onde andava escondido, nem de onde sai tanto ódio. Mas vem em tempestade, de todo lado. Com igual fúria e intensidade absoluta. Ou seria absurda?
Odeio porque odeio. Ponto. Não contemporizo. Não aceito meio terno. Não quero papo. Não cedo meio milímetro. No mínimo, quero todos presos e soterrados. Por todos entenda-se os do outro lado. O prazer máximo na vingança dos odiadores vem com a foto do maldito-mor da semana, no xadrez, de cabeça raspada. 
Nesse caminho (das grades), há ainda o esculacho, sem qualquer limite de respeito humano. O mais recente cometido contra Dona Marisa Lula da Silva. Há outros exemplos no lado A e no lado B das iras. (Pronto. Espaço para a surra – virtual por enquanto).
Se o amor é mesmo o reverso do ódio, metade do Brasil amou intensamente o PT, em particular, mas também homossexuais, mulheres, negros e outros, ditos minorias ou transgressores da boa ordem estabelecida. 
Outra metade, com igual idolatria, amou o lado contrário aos “vermelhos”. No modo geral e irrestrito, esse amor incontido deve ter sido dedicado ao mundo político. O reverso, somou e fez todos iguais em fúria e ódio.
Sobra em absoluta solidão, esmagados (e esganados) na cólera dos antagônicos, os moldados no paz-e-amor, praticantes de máximas humanistas, igualitárias e cristãs (?). Os tontos defensores da compaixão e do respeito humano – no mínimo, aos doentes. Coisas completamente démodé, out.
Não sabemos o tamanho desse grupo, mas tímidos integrantes veem aparecendo aqui e ali. Quase que pedindo desculpas, ensaiam um: Peraí, gente. Onde fomos parar? Onde vamos chegar nesse navegar na ira? Não há limite no anormal? Odiar não é normal. Não deveria ser.
Raiva, desejo de justiça é uma coisa, ódio, desejo de vingança é outra. E muito perigosa. Remember Hitler. Remember fascismo.
Se um desses pobres e ousados apaziguadores, em algum momento da guerra acirrada no último ano, esteve de um lado ou do outro, lascou-se. “Agora quer dizer que basta? Não perdoo golpista!!! Não perdoo corrupto!!! Não!!!” 
As três exclamações são clássicas. 
Se João Gilberto é sinônimo da Bossa Nova e JK de Brasília, as três exclamações espelham o ódio contemporâneo, nossos haters. As indigitadas também ganham corpo em olhares esbugalhados de sanha assassina, que podem ser seguidos de gritos, no levantar brusco da mesa, da poltrona ou no dedo em riste – vez por outra, na cara do antagonista. Particularmente, se o dito cujo for mais fraco.
O ódio é primo irmão da covardia. Os dois são praticas corriqueiras neste começo de século, quando o mundo segue em marcha ré. 
De um lado Putin, do outro Trump. Um, em nome da família, aprova até a descriminalização da violência doméstica. Contra a mulher, claro. Se for pelo bem da família, pode bater. É legal. 
 O outro, num sem número de desatinos e explícitos preconceitos, promete reeditar o muro como fronteira. Os dois são senhores da paz e da guerra. No meio, nós, navegando encolhidos entre os haters made in Brazil afora. 
“Não fui nascido pra isso”, costumava reclamar meu filho caçula, quando, pequeno, temia alguma coisa. É meu lamento de hoje.
PS.: Desculpe ai a repetição do tema e os adjetivos todos, mas é um tempo substantivo nos adjetivos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário